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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A falsa «crise dos refugiados»

A falsa «crise dos refugiados»

Thierry Meyssan

Enquanto os média europeus provocam comoção mostrando fotografias de uma criança afogada e reportagens sobre multidões atravessando os Balcãs a pé, Thierry Meyssan mostra que estas imagens são fabricadas. Claro, elas servem os propósitos do patrão dos patrões alemães, Ulrich Grillo, e da Otan. Mas elas não dão conta do fenómeno no seu conjunto e conduzem os Europeus a respostas desadaptadas.

A parte esquerda desta fotografia foi repetidamente publicada pela imprensa atlantista. A vítima, uma criança síria curda, Aylan Kurdi, é suposta ter sido devolvida pelo mar. No entanto, o seu cadáver está perpendicular às ondas em vez de lhes ser paralela. A presença, sobre a parte direita da imagem, de um fotógrafo turco oficial confirma a ideia de uma encenação. Ao longe, distinguem-se alguns banhistas.

Uma onda de emoção submergiu, brutalmente, as populações vivendo no espaço da Otan. De repente, elas tomaram consciência do drama dos refugiados no Mediterrâneo; uma tragédia que dura há vários anos perante a indiferença geral permanente.

Esta reviravolta é devida à publicação de uma fotografia mostrando uma criança afogada, atirada a uma praia turca. Pouco importa que esta imagem seja uma grosseira montagem: o mar rejeita os cadáveres paralelamente às ondas, nunca de forma perpendicular. Pouco importa que ela tenha sido, instantaneamente, reproduzida nas «actualidades» de quase todos os jornais da zona da Otan, em menos de dois dias. Afinal estão sempre a a dizer que a imprensa ocidental é livre e pluralista.

Prosseguindo no mesmo registo, as televisões multiplicaram as reportagens sobre o êxodo de milhares de Sírios, a pé, através dos Balcãs. Uma atenção especial foi dada à travessia da Hungria, que, primeiro, construiu até uma inútil barreira em arame farpado, depois multiplicou as decisões contraditórias de modo a que se pudesse filmar multidões caminhando ao longo de vias férreas, e tomando comboios(trens-br) de assalto.

«Reagindo» à emoção que provocaram nos seus concidadãos, os dirigentes europeus «surpresos» e entristecidos desfizeram-se sobre a maneira como irão levar socorro a estes refugiados. António Guterres, antigo presidente da Internacional Socialista e actual Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, convida-se para tal debate, defendendo : «a participação obrigatória de todos os Estados membros da UE. Segundo as estimativas preliminares, os países europeus têm uma necessidade potencial de aumentar as oportunidades de reinstalação em 200 000 lugares», declara ele.

Qual é afinal o real problema, quem o instrumentaliza e com que finalidade ?

Os refugiados do Mediterrâneo

Desde as «Primaveras árabes», em 2011, o número de pessoas tentando atravessar o Mediterrâneo e entrar na União Europeia aumentou consideravelmente. Mais do que dobrou e elevou-se em 2014 a 626 000.





Fluxo de migrantes para a União Europeia (em centenas de milhares)
Fonte : Eurostat

No entanto, contrariamente a uma ideia espalhada, não se trata aqui de uma vaga nova e ingerível. Em 1992, quando a União era composta por apenas 15 dos 28 estados actuais ela albergou ainda mais: 672 000 para um total de 380 milhões de habitantes. Existe, pois, uma margem considerável antes que os migrantes desestabilizem a economia europeia e os seus 508 milhões de habitantes actuais.

Em mais de dois terços estes migrantes são homens. Segundo as suas declarações, mais da metade de entre eles têm entre 18 e 34 anos. Em geral, não se trata portanto de famílias.




Proporção de homens entre os migrantes entrados na União em 2014.Fonte : Eurostat

Contráriamente à ideia actualmente martelada pelos média(mídia-br), apenas menos de um terço são refugiados, fugindo de zonas de guerra: 20% são Sírios, 7% Afegãos e 3% Iraquianos.

Os outros dois terços não vêem de países em guerra e são sobretudo migrantes económicos.

Por outras palavras, o fenómeno das migrações só marginalmente está ligado ás «Primaveras Árabes» e ás guerras. Os pobres deixam os seus países, e tentam a sua sorte nos países ricos, em virtude da ordem pós-colonial e da globalização. Este fenómeno, depois de ter regredido de 1992-2006, recomeçou e amplifica-se progressivamente. Representa actualmente apenas 0,12% anual da população da UE, ou seja – se fôr corretamente gerido— não apresenta nenhum perigo a curto prazo para a União.





O presidente da Federação da indústria alemã, Ulrich Grillo, pretende 800. 000 trabalhadores estrangeiros suplementares na Alemanha. Uma vez que os acordos europeus o interditam, e a opinião pública é hostil a isso , ele participa na encenação da «crise dos refugiados» afim de fazer evoluir a regulamentação.

Colocam os migrantes algum problema ?

Este fluxo de migrantes inquieta as populações europeias, mas é aplaudido pelo patronato alemão. Em dezembro de 2014, o «patrão dos patrões» alemães, Ulrich Grillo, declarou à DPA, mascarando hipócritamente os seus interesses por trás de bons sentimentos: «Nós somos desde há muito um país de imigração, e devemos continuar a ser». «Enquanto país próspero, e também por amor cristão ao próximo, o nosso país deverá permitir-se acolher mais refugiados». E, ainda mais : «Eu distancio-me, muito claramente, de neo-nazis e de racistas que se reúnem em Dresden e em outros lados». Mais a sério: «Devido à nossa evolução demográfica, nós garantimos o crescimento económico e a prosperidade com a imigração» [1].

Este fluxo de migrantes inquieta as populações europeias, mas é aplaudido pelo patronato alemão. Em dezembro de 2014, o «patrão dos patrões» alemães, Ulrich Grillo, declarou à DPA, mascarando hipócritamente os seus interesses por trás de bons sentimentos: «Nós somos desde há muito um país de imigração, e devemos continuar a ser». «Enquanto país próspero, e também por amor cristão ao próximo, o nosso país deverá permitir-se acolher mais refugiados». E, ainda mais : «Eu distancio-me, muito claramente, de neo-nazis e de racistas que se reúnem em Dresden e em outros lados». Mais a sério: «Devido à nossa evolução demográfica, nós garantimos o crescimento económico e a prosperidade com a imigração» [1].
Contráriamente a uma ideia feita, os migrantes económicos não colocam problema de identidade à Europa, fazem é falta nos seus países de origem. Mas, ao contrário, colocam um problema social na Alemanha, onde, devido à política inspirada, nomeadamente, por Ulrich Grillo, a classe operária é já vítima de uma exploração brutal.
Por todo o lado, aliás, não são os migrantes económicos, mas, sim, o subsequente reagrupamento familiar que levanta problemas.


Quem fabrica a actual imagem da «crise de refugiados» ?

Desde o início do ano a passagem da Turquia para a Hungria que custava 10.000 dólares baixou para 2.000 dólares, por pessoa. É claro que alguns passadores são esclavagistas, mas muitos buscam, simplesmente, fornecer um serviço a pessoas em aflição. Seja como fôr, quem paga a diferença?

Além disso, se no início da guerra contra a Síria o Catar imprimia e distribuía aos jiadistas da al-Qaida falsos passaportes sírios, para que eles pudessem convencer os jornalistas atlantistas que eram «rebeldes» e não mercenários, passaportes sírios falsos são agora distribuídos por certos passadores a migrantes não-sírios. Os migrantes que os aceitam pensam, muito justamente, que estes documentos falsos facilitarão o seu acolhimento na União. Com efeito, tendo os Estados membros da União fechado as suas embaixadas na Síria – salvo a República Checa e a Roménia—, não lhes é mais possível verificar a autenticidade destes passaportes

Há seis meses atrás, eu espantava-me com a cegueira dos dirigentes da União que não viam a vontade dos Estados Unidos em enfraquecer os seus paises, e nomeadamente com uma «crise de refugiados» [2]. No mês passado, o magazine Info Direkt afirmou que, segundo os serviços de Inteligência austríacos, a passagem para a Europa de refugiados sírios era organizada pelos Estados Unidos [3]. Esta imputação ainda precisa ser verificada, mas constitui, desde logo, uma hipótese a levar a sério.

No entanto, todos estes acontecimentos, e estas manipulações, não teriam qualquer gravidade se os Estados membros da União colocassem um fim ao reagrupamento familiar. O único real problema não seria então a entrada dos migrantes, mas a sorte dos que morressem na passagem, ao atravessar o Mediterrâneo. Ou seja, a única realidade que não mobiliza nenhum dirigente europeu.


Que prepara a Otan ?

De momento a Otan, quer dizer o braço armado internacional dos Estados Unidos, não se mexeu. Mas, segundo as suas novas missões, a Aliança Atlântica reserva-se a possibilidade de intervir militarmente logo que surjam migrações importantes
abendo nós, que apenas a Otan é conhecida por dispôr da capacidade de espalhar uma intoxicação de "actualidades" em todos os quotidianos dos seus Estados membros, é altamente provável que ela esteja por trás da campanha actual. Por outro lado, a assimilação de todos os migrantes à qualidade de refugiados fugindo de zonas de guerra, e a insistência sobre a suposta origem síria destes migrantes, leva a pensar que a Otan prepara uma ação pública ligada à guerra que ela secretamente conduz contra a Síria.

[1] «Allemagne : le patronat veut plus de réfugiés» («Alemanha : o patronato quer mais refugiados»- ndT), AFP, 23 décembre 2014.
[2] “A cegueira da União Europeia face à estratégia militar dos Estados Unidos”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 27 de Abril de 2015.
[3] “Insider : Die USA bezahlen die Schlepper nach Europa !”, Info Direkt, 5. August 2015. “Acusam os Estados Unidos de financiar o êxodo de refugiados para a Europa”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 16 de Agosto de 2015.

FONTE

12 comentários:

  1. "There are a thousand hacking at the branches of evil to one who is striking at the root." Henry David Thoreau

    Há muita gente a atacar os ramos da árvore do mal, mas ninguém ataca a raiz.
    A principal causa de todas estas crises que estão a acontecer, é falta de acesso ao dinheiro. Cada vez mais, devido a várias causas, apenas uma pequena parte da população tem acesso ao dinheiro.

    Como se revolve isto ?, achei um link no youtube que tem uma boa proposta.
    "Why we should give everyone a basic income"
    https://www.youtube.com/watch?v=aIL_Y9g7Tg0

    Já agora achei no youtube mais um link interessante sobre dinheiro:
    (ver do minuto 6:00 aos 20:00)
    Zeitgeist Adendo - https://www.youtube.com/watch?v=MJkhtNsoz0I

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    1. Vivas! Por acaso, em vendo o 1º vídeo, fiquei a aprender que Nixon tinha tentado implementar esse sistema. Uma boa curiosidade. Se não estou em erro, é lá p'rós lados da Finlândia ou Noruega que tentam aplicar esse sistema.

      Tenho algumas dúvidas quanto a que isso possa ser uma solução a longo-termo. O problema em si não reside na falta de dinheiro, mas sim quem controla a massa monetária em circulação.

      Por exemplo,uma coisa que quase ninguém sabe é o caso dos países do euro. Quem contrôla a massa monetária no Euro ? O BCE. Agora porque razão o único objectivo do BCE é o de controlar a taxa de inflação ??

      Pois aí reside o segredo do BCE. Porque será que ele tenta manter a taxa de inflação a níveis baixos ? A razão é muito simples para quem busque compreende-la, é que quanto mais baixa a taxa de inflação, mais alta a taxa de desemprego, inversamente, quanto mais alta a taxa de inflação, mais baixa é a taxa de desemprego. Não sei se já ouviste falar na Curva de Phillips e no NAIRU:

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Curva_de_Phillips
      https://pt.wikipedia.org/wiki/NAIRU

      Portanto segundo a Curva de Phillips, empiricamente quanto mais se luta contra a inflação, mais altas serão as taxas de desemprego. O BCE está lá justamente para manter as taxas de desemprego altas! O NAIRU é o mínimo de taxa de desemprego que todo governo liberal deve respeitar, que anda na ordem dos 9 a 10%. A falta de emprego é propositada e são as elites que assim o desejam. O mal está aí. Quem controla a inflação decide da massa monetária em circulação e das taxas de desemprego. Tudo está ligado. Ainda por cima, o BCE não dá contas a ninguém...

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  2. O vídeo mais interessante do Nixon para mim, é este em:
    https://www.youtube.com/watch?v=rcnhF09QN78
    Onde é anunciado o fim da convertibilidade dos dólares para ouro.

    Se te lembrares de Bretton Woods, o dólar foi aceite como moeda de referência internacional, mas tinha de manter convertibilidade em ouro. Se para cada dólar criado, tivesse de haver uma quantidade de ouro em reserva, demasiada moeda não poderia ser criada, pois seria necessário ouro.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Nixon_Shock
    “ the unilateral cancellation of the direct convertibility of the United States dollar to gold.”

    Apesar disto o dólar continuou como moeda de reserva internacional e na minha opinião isto permitiu ganhar a “guerra fria”, os adversários do bloco de leste não tinham chance contra uma moeda que todos tinham de ter para comprar petróleo, ter uma moeda que os outros tinham de ter, permite passar a inflação para outros países não é ? e imprimir muito dinheiro sem este perder o valor não é ?, e assim conseguia-se comprar recursos a preços muito baixos não é ?

    Não foi só o Nixon que tentou políticas sociais progressistas nos Estados Unidos, já ouviste falar no New Deal ? https://en.wikipedia.org/wiki/New_Deal

    Há um vídeo no Youtube do Richard Wolff que explica bem, não sei se é este:

    Richard Wolff presents Democracy at Work: A Cure for Capitalism at the Baltimore Radical Bookfair - https://www.youtube.com/watch?v=Ifad2pMZDgg
    Se não for, é ouvir outros dele, até achar o que ele fala no new deal.

    “ Se não estou em erro, é lá p'rós lados da Finlândia ou Noruega que tentam aplicar esse sistema. “
    Ouvi falar que há um país do Norte da Europa que está a discutir isso, mas agora não me recordo qual é. Esses países são dos mais desenvolvidos do mundo, suponho que estas coisas vão acontecer lá primeiro.

    “O problema em si não reside na falta de dinheiro, mas sim quem controla a massa monetária em circulação.”

    Bem, sim... mas isso é apenas outra maneira de dizer o que eu disse.
    É aumentando ou diminuindo a massa monetária numa economia que se fazem as crises, no período onde a massa monetária está em expansão as pessoas e empresas tomam créditos dando como garantias bens reais, e depois acontece um período de regressão da massa monetária, onde uma parte significativa das pessoas perde os seus bens reais, contra dinheiro criado do nada.
    É a ausência de dinheiro, na parte do ciclo económico regressivo, que cria a crise.

    Há uns vídeos do david icke que explicam bem a coisa, achei uns links:
    David Icke - The Global Monetary System
    https://www.youtube.com/watch?v=0IyLSAiWr9c

    David Icke take on 'Occupy Revolution'
    https://www.youtube.com/watch?v=oAnnZlsOSlY


    (continua)

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  3. Já ouviste falar de “fiat currencys” ?
    FIAT é uma palavra latina que quer dizer “será”, e este “será” é relativo a uma fé em algo. http://www.investopedia.com/terms/f/fiatmoney.asp

    Se leste aquele link do Adendo, ficaste como uma ideia como pode ser criado o dinheiro hoje em dia. E o valor desse dinheiro como não tem representatividade em ouro, é baseado em FÉ, tu tens fé que ele vale aquilo e prontos. :D É claro que algo que é criado em fé, é algo que não tem segurança, o que pode valer hoje muito, amanhã pode não valer nada.

    E algo que não tem representatividade em ouro pode ser criado em grande quantidade e utilizado com arma económica. Hoje em dia há tantas guerras económicas, que nós nem nos apercebemos delas. Cada empresa de referência que um país privatiza é uma batalha que perde, pois fica com menos dinheiro na sua economia.

    [SITUAÇÃO IMAGINÁRIA]

    Imagina que eu vivia em um país chamado Tortugalhal. Nesse país tínhamos uma moeda chamada Pézudo. Eu era o presidente, e mandava imprimir milhões de pézudos.

    Com os Pézudos, comprava as companhias eléctricas dos países vizinhos, e depois as suas companhias de água, e assim sucessivamente. Desde que eu conseguisse que o dinheiro que eu imprimisse mantivesse o valor, eu conseguiria comprar todos os meios de produção dos meus países vizinhos e mandar os lucros para Tortugalhal. Isto é guerra económica.

    Como eu conseguia que o meu país mantivesse o valor do seu dinheiro ? especialmente se não tivesse ouro para dar valor a tanto dinheiro ? , uma boa forma seria forçar esses países a grandes empréstimos, se fosse aos meus bancos ainda melhor, assim conseguiria uma crise, durante a crise esses países aumentariam os seus impostos, e as pessoas com dinheiro desses países com medo de impostos altos, iriam colocar o seu dinheiro nos meus bancos com a minha moeda. Então ficariam presos. A minha moeda nunca poderia desvalorizar face a esse país, se o capital deles estivesse aqui, eu controlaria o seu sistema monetário.

    Se ainda por cima, a cada dívida criada, ou a cada depósito de dinheiro estrangeiro, eu pudesse usar isso como reserva para criar mais dinheiro em vez de usar reservas reais como ouro ou prata, então esse países ficariam a ser uma espécie de colónia minha, eu tiraria de lá todas as riquezas, sem disparar um tiro, nem usar um submarino, tanque ou avião. O pessoal desses países ficariam todos sem emprego e a viver debaixo da ponte. Ponte essa que seria minha.

    Conheces o Max Keiser ?
    Keiser Report: Summer Solutions
    https://www.youtube.com/watch?v=TVaVPMMvyPk
    (Ouve isto do minuto 3:20 ao minuto 4:00)

    Se conseguisse impedir que esses países produzissem algo, ainda seria melhor, teriam de comprar os meus produtos aos meus preços.

    [FIM DE SITUAÇÃO IMAGINÁRIA]


    (continua)

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  4. “Por exemplo,uma coisa que quase ninguém sabe é o caso dos países do euro. “

    Olha, há muita documentação sobre a Reserva Federal, mas sobre o BCE e sobre o BIS, não consigo achar muita coisa. Gostava de ler respostas a estas perguntas:
    a) Quem são dos donos do BCE ? e do BIS ?
    b) O Euro é feito exatamente da mesma maneira que o dólar ?
    c) O BCE é uma instituição privada ?
    Eu tenho uma certa ideia das respostas, mas gostava de confirmações oficiais.

    “Porque será que ele tenta manter a taxa de inflação a níveis baixos ?”

    A inflação e as taxas de juros são formas de tentar regular a economia, ao baixar ou elevar essas taxas tenta-se conseguir certos efeitos na economia, nem sempre se consegue os efeitos desejados.

    “quanto mais baixa a taxa de inflação, mais alta a taxa de desemprego”
    Baixa inflação normalmente é uma consequência de uma crise, havendo menos dinheiro para comprar bens as empresas são pressionadas a não aumentar os preços. E havendo crise, despedem e não contratam. Mas baixa inflação, não é a única causa do desemprego, há muitos outros fatores.

    “quanto mais alta a taxa de inflação, mais baixa é a taxa de desemprego.”
    Aumentam os preços, é sinal de recuperação económica, as pessoas tem mais dinheiro para gastar, as empresas vendem mais, pedem mais dinheiro pelos produtos ou serviços, contratam mais. Mas como eu disse, há muitos outros fatores que fazem acontecer isto, a inflação alta é uma consequência de mais dinheiro na economia.

    A curva de Philips ?, isso é uma teoria do século XIX, se eu for operar alguém com instrumentos do século 19, até posso salvar a sua vida, mas o pobre coitado vai sofrer como o caraças. Essas teorias económicas do século passado são interessantes, mas é preciso analisar as coisas holísticamente, há mais fatores que influenciam o desemprego, especialmente fatores tecnológicos, a globalização, outros fatores económicos, etc

    Conheces o Baxter ? https://www.youtube.com/watch?v=gXOkWuSCkRI
    Imagina este pequeno a substituir trabalhadores.

    “O NAIRU é o mínimo de taxa de desemprego... dos 9 a 10%. A falta de emprego é propositada”

    Como sabes há uma discussão danada sobre qual é a taxa de desemprego real em Portugal. Eu concordo com o estudo que está neste link:
    http://www.ces.uc.pt/observatorios/crisalt/documentos/barometro/13BarometroCrises_Crise%20mercadotrabalho.pdf

    Segundo o estudo acima, a taxa real são 29% (segundo semestre de 2014) se os trabalhadores emigrados não tivessem saído do país.

    Já estamos no segundo semestre de 2015, eu acho que a taxa já deve ter passado os 30% na boa, deve andar nos 31 % , 32%... não posso provar, mas tenho o “felling”. E não acredito que baixe, acho que vai aumentar, aumentar, até que alguma coisa aconteça.

    A falta de emprego não é propositada, é sistémica, há cada vez menos empregos por causa da automatização, é claro que se dividíssemos o trabalho restante, haveria mais emprego, mas isso não acontece. Não percebo as razões porque ninguém aparece a propor isto. Já ouviste aqueles partidos que dizem ter preocupações sociais a falarem em formas de dividir o trabalho que resta ? eu ainda não ouvi nada.

    Já agora, achei este link, pensei que pudesses achar interessante:
    http://observador.pt/especiais/saiba-os-nomes-de-quem-financia-os-partidos/

    Fica bem

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    1. Vivas! O valor do dinheiro depende da confiança que se lhe dá. Mas não sei porquê, tenho tendência a duvidar dessa premissa que hoje em dia é considerada como um facto adquirido. Não vou andar ás voltas com o assunto, mas prontos é o que se aprende na escola.

      Fazes uma boa pergunta, pois também estou como tu, na verdade documentação sobre o BCE é muito rara. Deve ser sem dúvida o Banco Central mais misterioso do mundo. E este controla todos os Bancos Centrais da UE e não dá contas a ninguém. Apenas conheço o que é dito nos TFUE e TUE sobre ele. Também sei que foi fundado segundo as regras do Banco Central Alemão. Mas não é muito difícil, se bem que não haja provas, tentar ver quem comanda o BCE. Olha vê este trecho, sobretudo a partir do minuto 48:50 até 50:00.

      https://www.youtube.com/watch?v=t-rfumgFb9E

      Para se descobrir alguma coisa terá de se remontar no tempo, até ás origens da União Europeia. O BCE é uma instituição completamente independente dos governos da zona euro. Não dá satisfações a ninguém. Muito, mas muito estranho.

      Olha sobre a inflação ou o desemprego, há que ter em conta que quem pilota a economia não são os governos, é a alta finança. Os banqueiros internacionais. Quem decide do valor da moeda, ao inverso da dita confiança, é a alta finança através da quantidade de moeda que metem em circulação. Por isso é que dizia lá em cima ter as minhas dúvidas quanto á confiança. Já vamos ver então como é o esquema, não sei se serás de acordo ou não...

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    2. Se o desemprego fosse sistémico, não existiria o NAIRU, que no geral diz que não se deve descer abaixo de uma certa taxa de desemprego. Para cima pode subir, mas para baixo não. Isto porque manter uma certa taxa de desemprego mínima (NAIRU), faz com que as pessoas sejam menos reivindicativas e pois então muito vantajoso para os patrões. Permite baixar os salários e ter mais lucros. Sendo que esta taxa de desemprego mínima (NAIRU) permite equilibrar a taxa de inflação, eles coordena-se um com o outro, seja condicionar a criação de moeda e por aí o valor a dar a essa moeda. Quanto mais rara a massa monetária (inflação baixa), mais valor tem a moeda. Isso só traz benefícios para os ricos que vêm assim suas fortunas aumentar de valor.

      Agora o contrário. Se a inflação aumenta - mais massa monetária em circulação- os primeiros a perder são os ricos cujas fortunas perdem valor. Se existe mais moeda na economia, mais facilidade se terá para a criação de emprego e consequentemente melhores salários. Pois então mais reivindicações por parte dos trabalhadores porque também os preços vão aumentar para permitir que o salário vá de par com os aumentos de bem de consumo.

      No primeiro caso, quem ganha são os ricos. No segundo caso, quem ganha são os trabalhadores e os desempregados que vão ter a oportunidade de arranjar um trabalho. Faz lembrar a tal "luta de classes" de Marx. Aliás existe um economista muito famoso que explica por exemplo que uma das maneiras de baixar a dívida pública é através de uma taxa de inflação alta. Foi assim que a França e a Alemanha pagaram boa parte de suas dívidas colossais após a 2ª guerra mundial. E o desemprego era quase inexistente!

      Sobretudo que a inflação é baixa, pode-se perguntar o porquê da política anti-inflacionsita da BCE. Não tem sentido. Se a inflação fosse alta, aí já teria sentido uma política anti-inflacionista. Está aqui um mistério, não é ?

      Agora é verdade que a questão das máquinas até pode ter uma grande influência, mas essa influência penso ser proporcional á quantidade de moeda em circulação.

      Olha como se diz no vídeo Zeitgeist Adendo, "a complexidade associada ao sistema financeiro é uma simples máscara".

      Tem de se fiar nos economistas fora do mainstream mediático. O meu preferido é Jacques Sapir, muito realista, tenho alguns artigos aí no blog traduzidos. Sobretudo no que toca á fantochada da União-Europeia e Euro este é o economista topo.

      http://russeurope.hypotheses.org/

      Sobre a curva de Phillips, até pode ser uma tese antiga, mas o liberalismo também é uma tese ainda mais antiga que vive até hoje. Apesar de tudo as teses de Phillips são empiricas, enquanto as de David Ricardo nunca se verificaram, sobretudo com a história do comércio entre Portugal e Grande-Bretanha. E ainda hoje se vê com o aumento da desigualdade, os ingleses cada vez mais ricos e nós cada vez mais pobres.

      Abraços.

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  5. Ah sim, claro que a taxa de desemprego é bem mais elevada do que nos é mostrado. Tudo hoje em dia que sai da boca de um governante é mentira.

    Boas.

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    1. “ documentação sobre o BCE é muito rara. Deve ser sem dúvida o Banco Central mais misterioso do mundo.”

      Sim, pouco se sabe. Eu acho muito estranho.
      Gostava de saber timtim por timtim como foi criado, com todos os pormenoreszinhos.
      Quem é dono daquilo ? como funciona com todos os pormenores, do maior ao mais pequeno.

      “controla todos os Bancos Centrais da UE e não dá contas a ninguém. “
      Bem, tem de dar contas a alguém, aquilo não funciona ao acaso, agora a quem exactamente dá contas eu gostava de saber.

      “Olha vê este trecho, sobretudo a partir do minuto 48:50 até 50:00.”
      Tarde demais, o vídeo já foi bloqueado. :D

      Sobre a confiança no valor da moeda, é um termo retórico, apenas quer dizer que se não há materiais preciosos como reserva, o valor do dinheiro é o papel que foi impresso mais aquilo que as pessoas acreditam que vale. É claro que a aceitação do dinheiro pelo sistema, e o seu uso, faz com que as pessoas acreditem que vale. Mas esse valor não se baseia em nada real.

      “Se o desemprego fosse sistémico, não existiria o NAIRU”
      https://pt.wikipedia.org/wiki/NAIRU - Citações da wiki:
      “...nunca ter sido quantificada”
      “...taxa de desemprego natural, para a qual a economia converge. “

      Não existe uma taxa de desemprego natural, para a qual o nosso sistema económico tende a manter.
      Isso para mim, são histórias da Carochinha, a análise económica moderna é holística, vê as coisas num todo. Há vários tipos de desemprego, e há várias causas.

      Quando eu escrevi que o o desemprego é sistémico (o que é um facto), estava a pensar no “desemprego tecnológico”, o desemprego devido a melhorias tecnológicas sobe de ano para ano, é claro que há uma percentagem do desemprego tecnológico que poderia reduzida com formas divisão do trabalho, mas não se está a ir por esse caminho.

      Para além do desemprego tecnológico, existe desemprego que é causado pela falta de dinheiro na economia, e esse pode ser considerado cíclico. Mas este tipo de desemprego, não afecta significativamente a tendência de desaparecimento dos empregos disponíveis, os empregos estão a desaparecer porque a nossa tecnologia está cada vez mais eficaz.

      O número de empregos disponíveis está a desaparecer, cá vez há menos empregos disponíveis, isso é um facto.

      Sugiro a leitura de “ The End of Work “ , do Jeremy Rifkin.

      (continua)

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    2. Boas! Sim dá contas a alguém, aos banqueiros internacionais, mas nada ao países do euro.

      Sobretudo não confio em tudo o que está escrito no Wikipédia. As verdadeiras regras da economia não se aprendem hoje em dia na escola. Aliás, assim que sais da escola, logo te dás conta que entre o que se aprende e o real, a coisa é bem diferente. Bem isto é válido seja em que área for, não só nas ciências económicas. Andamos sempre com crises económicas, mas na realidade e ao contrário do que se acredita, eu creio que nenhuma crise é cíclica. É provocada, propositada. Alguém neste mundo controla toda a economia mundial e se assim o desejar, provocará uma crise. No fim são sempre beneficiários, os cidadãos como nós é que perdem e pagam a fatia.

      No caso do NAIRU, não acredito no que está escrito no que citaste do Wiki, a prova é que mais em baixo, reconheces bem que o desemprego poderia desaparecer. Se não houvesse desemprego, quem beneficiaria ? Todos nós, incluindo os banqueiros. Mas um banqueiro não vê as coisas desse ponto de vista, somente calcula quanto lucro vai ter e está-se a lixar para o resto. Existem economistas que confirmam o NAIRU e a curva de Phillips, mas esses nunca os veremos na televisão. Não são bem-vindos. Um deles é o professor Etienne Chouard (olha, também um fervoroso adepto da democracia, a verdadeira).

      A verdadeiro dizer, apenas não se verificaram essas regras num curto período dos anos 70. Os economistas nunca conseguiram descobrir porque razões. Razão pela qual todo economista mainstream tenta negar o que parece evidente, unicamente porque houve essa falha nos anos 70. Salvo este período sempre se confirmou.

      Como dizes, existem muitos factores extra a ter em conta, dou-te o meu acordo. Esses factores podem ter tido um role decisivo nesse período.

      Existe um bom livro que eu tenho na mira, recente, que explica bem isso tudo. São os tais ensinamentos que nunca se ouvirá numa escola. Ainda bem que existem pessoas que vão a contra-corrente. A minha tendência é acreditar neles.

      Os fundamentais da economia, que são a agricultura e a indústria estão a desaparecer. A moda são os empregos no ramo terciário. Jogar no casino da bolsa é a moda. Não me admira então que tanto a agricultura e a industria tenham cada vez menos empregados.

      A nossa sociedade já é desigual. E só tem tendência para aumentar. Mas portanto sempre nos disseram que o liberalismo contribuiria a criar mais emprego e diminuir as desigualdades...mais uma prova de que não se deve acreditar no pensamento que está na moda. Ainda hoje se escuta na tv que é assim. Esses economistas, martelaram-lhes na escola que seria assim e apesar da realidade ser todo o seu contrário, ainda continuam a crer no que lhes ensinaram. Ou são pagos para isso, ou então ficaram mesmo com o cérebro ensaboado. Tenho tendência a acreditar que são pagos.

      Interessante o link. Parti do principio que havendo mais concessão de crédito, gera-se mais consumo interno e consequentemente mais emprego.



      Boas.

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  6. Custa a achar estatísticas sobre isto, por isso se errar as percentagens, paciência, mas deve ser algo mais ou menos assim: (atenção as % podem estar erradas)

    No principio do século XX, cerca de 75% da população trabalhava na agricultura, depois tinhas uns 10% na indústria e 15% nos serviços. Hoje em dia deves ter uns 25% na agricultura a nível mundial e sinceramente poderia bem ser menos de 1%, só que nos países mais pobres eles não tem possibilidades de automatizar e há muita agricultura de subsistência. Os empregos na industria deram um salto para os 25%, com a industrialização da maioria de muitos países, mas agora a cada ano que passa há menos empregos na industria devido à automatização, e a médio prazo vamos ter 1% de emprego na indústria. Resta os serviços, neste momento os serviços devem ter praticamente metade (50%) do emprego mundial. Basta uma inteligência artificial barata ser desenvolvida, e vai ser, nos próximos anos... e pufff, ficas com 1% de emprego nesta área.

    How To Create A Mind: Ray Kurzweil at TEDxSiliconAlley
    https://www.youtube.com/watch?v=RIkxVci-R4k

    “...as pessoas sejam menos reivindicativas e pois então muito vantajoso para os patrões. “

    Na verdade o desemprego poderia ser eliminado, bastava dividir o trabalho que existe e automatizar ao máximo. Li algures que bastavam 3.000 pessoas com a tecnologia atual para fazerem todo o trabalho necessário no mundo, se automatizássemos o máximo que pudéssemos, não consigo achar o link para onde li, parece exagero... só 3.000 ?, dá que pensar. Para além disso, grande parte do trabalho que hoje se faz no planeta é voluntário, (se estudares as estatística de trabalho gratuito, vais ficar de espantado), arranjar 3.000 voluntários seria fácil demais. E mesmo que não fosse, poderia ser como o serviço militar, trabalhas 2 anos, depois tens acesso à reforma. Não é preciso mais, até é exagerado. Se a qualquer pessoa só fosse permitido trabalhar 2 anos, o problema do desemprego desaparecia.

    Sim, se houver muita gente desempregada, as pessoas vão trabalhar por salários muito baixos, até ao limite de quase não lucrarem com o trabalho. Trabalhar tem custos, é preciso pagar transportes, é preciso comer fora de casa, existe desgaste nas roupas, etc Mesmo no auge da grande depressão havia trabalhos não aceites, pois os custos do trabalho eram superiores ao que o trabalhador poderia retirar deles. Li algures, que na antiga Roma era permitido aos escravos ficarem com 50% do que produziam, assim produziam mais, era uma boa estratégia. Só que era chato, os senhores tinham de providenciar alojamentos e comida aos escravos. Será que hoje em dia permitem que fiques com 50% do que produzes ? Se não, puxa então os escravos na antiga Roma tinham melhores condições.

    Empregados baratos.
    Isto tem vantagens e desvantagens, por um lado com empregados pagos a peso de casca de amendoim poupa-se dinheiro, mas por outro lado, quando se paga amendoins ficas com pessoas que não podem pagar estudos para evoluírem, e ficas com pessoas que não podem comprar produtos que não sejam de subsistência. Sem compradores, não há empresas, a menos que sejam subsidiadas. Então isto é um dança de cadeiras romana, ou uma corrida para o fundo. É perigoso criar-se uma sociedade muito desigual, as desvantagens são muitas. Queremos uma sociedade de miseráveis de um lado, e de ricos de outro ?, esses ricos teriam de viver em fortalezas cheias de guardas.

    “ Se existe mais moeda na economia, mais facilidade se terá para a criação de emprego e consequentemente melhores salários.”
    Não necessariamente, nada indica que havendo mais dinheiro na economia, haja mais empregos, nunca ouviste falar de “jobless recuperations” ? https://en.wikipedia.org/wiki/Jobless_recovery
    Para quê empregar, se pudemos usar o dinheiro para automatizar ?, para que empregar se pudemos comprar bens imóveis, existe crescimento económico se eu comprar imóveis, só que o dinheiro não circula através do trabalho, mas circula na economia. Se posso automatizar barato, para quê pagar melhores salários ?

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  7. Medimos o sucesso de um país pelo dinheiro que circula nele, isto está errado, devíamos medir pelo “índice de felicidade”.

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